quinta-feira, 10 de junho de 2010

MUTIRÃO PARA RECOLHER LIXO NO MATO (texto e fotos)

A comunidade de Espigão de Cima realizou um mutirão para recolher lixo sintético jogado aleatoriamente ao longo das margens de estradas que servem a comunidade. O trabalho foi promovido pela ACESP e contoucom a participação dos moradores, entre jovens e adultos.
Um grupo de várias pessoas da comunidade  fez a coleta do lixo sintético jogado nas margens das estradas, utilizando uma carroça e uma camioneta para reunir num único ponto o material coletado. O trabalho durou 3 horas. Foram coletados mais de 30 sacos, perfazendo um total de aproximadamente 400 quilos de lixo, numa área de aproximadamente 50.000 m².

Foram afixadas faixas, em locais estratégicos da comunidade, com os seguintes dizeres: “Lixo no mato é poluição! Não jogue lixo no mato”, “Preserve a natureza! Não jogue lixo no mato”, “Não polua nossas matas! Não jogue lixo!” e “Mutirão para recolher o lixo sintético do mato!”. O objetivo das faixas é a conscientização da população sobre a necessidade de não se jogar lixo no mato.

O resultado final da proposta foi altamente satisfatório. Teve grande repercussão na comunidade e nas comunidades vizinhas; foi também objeto de divulgação pela imprensa de Montes Claros.


PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UMA QUADRA POLIESPORTIVA (texto)

PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UMA QUADRA POLIESPORTIVA

NA COMUNIDADE DE ESPIGÃO DE CIMA



PROPONENTE
Associação Comunitária dos Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais das Margens do Rio Espigão – ACESP.


CONTEXTO E JUSTIFICATIVA
A comunidade de Espigão de Cima, localizada da divisão territorial da Fazenda Espigão, situada a um quilômetro do povoado de Lagoinha e BR 135, região Sul do município de Montes Claros, possui 85 (oitenta e cinco) famílias cadastradas pela Secretaria Municipal de Saúde e uma população aproximada de 290 (duzentas e noventa) pessoas, das quais 180 (cento e oitenta) são sócios da proponente (ACESP). Os moradores estão distribuídos numa área aproximada de 4.500.000 m² (quatro milhões e quinhentos mil metros quadrados).

Cerca de 25% do total da população tem idade abaixo de 30 (trinta anos). Há um trabalho contínuo da ACESP em estimular a prática de esportes e as modalidades mais praticadas atualmente na comunidade são: caminhadas, ciclismo, cavalgada, futebol e capoeira.

As caminhadas são praticadas através das estradas que servem à comunidade e há uma proposta da proponente de organizar um grupo de tracking; um grupo de ciclismo com veículos e equipamentos adequados já está em atividade com pelo menos 06 (seis) integrantes; há pelo menos 10 (dez) cavaleiros na comunidade, dos quais 02 (dois) são associados à Associação dos Cavaleiros de Planalto Rural; há cerca de 40 (quarenta) praticantes de futebol, entre crianças, jovens e adultos, na comunidade, que oram utilizam um campinho de terra batida no local onde se pretende construir a quadra poliesportiva objeto deste projeto, ora utilizam a quadra o campo de futebol do povoado de Lagoinha; há um grupo de capoeira com 20 (vinte) praticantes entre crianças, jovens e adultos.

A comunidade conta com um Grupo de Jovens (sem vínculo religioso), voltado para a prática da cidadania, denominado de Jovens da Comunidade de Espigão, Unidos pela Cidadania e Solidariedade (JEUS) que desenvolve atividades esportivas, culturais e educativas, dentre elas a prática da capoeira, ciclismo, oficina permanente de forró universitário, aulas de violão e viola, além de reuniões periódicas, palestras e debates sobre temas de interesse da juventude.

O grupo de capoeira atualmente não dispõe de local apropriado para a prática do esporte e utiliza, a título de empréstimo, um piso existente no quintal do senhor Augusto Figueiredo, morador da comunidade. A construção da quadra poliesportiva resolverá de imediato o problema da falta de local para a prática de capoeira na comunidade, além de propiciar a prática de outras práticas como futebol (masculino e feminino), peteca e vôlei. (as duas últimas ainda não são bem difundidas na comunidade e serão estimuladas com a promoção de torneios assim que houver local para a prática). Essa quadra ainda poderá ser utilizada para outros eventos ao ar livre como shows, bailes, cultos religiosos, oficinas, palestras, reuniões, etc.

A ACESP dispõe de um terreno, situado em um ponto central da comunidade, devidamente legalizado, destinado à construção da sede da associação e de uma quadra poliesportiva. O local da construção da quadra dispensa terraplanagem, haja vista que ali já funciona como um “campinho” de terra batida, onde moradores da comunidade e de comunidades vizinhas, especialmente jovens, praticam futebol.

Na comunidade residem vários construtores, pedreiros e auxiliares da construção civil, todos dispostos a doarem mão-de-obra em prol da construção da quadra.

OBJETIVO
Construir uma quadra que possibilite a prática de futebol, de capoeira, peteca, vôlei e outras atividades.

BENEFICIÁRIOS
Toda a população da comunidade de Espigão de Cima e comunidades vizinhas.

METAS E ATIVIDADES
Meta I

Criar um espaço que atenda as demandas dos praticantes de capoeira e futebol de salão masculino da comunidade;

Meta II

Incentivar a prática de futebol de salão feminino;

Meta III

Incentivar a prática de vôlei e peteca;

Meta IV

Dispor de um espaço adequado para a realização de eventos educativos, culturais e de lazer ao ar livre.

METODOLOGIA

Após a reunião do material constante do orçamento, os trabalhos de construção da quadra serão executados com mão-de-obra voluntária dos moradores da comunidade.

O prazo estimado para a construção é de 08 (oito) dias a partir do início dos trabalhos.


MEMÓRIA DE CÁLCULO (ORÇAMENTO)

QUANTIDADE/MATERIAL/VALOR UNIT./VALOR TOT./CONTRA-PARTIDA DA ACESP

220 sacos/Cimento/17,50/3.850,00/Mão-de-obra

17 metros/Areia lavada/35,00/595,00/Idem

05 metros/Areia de reboco/20,00/100,00/Idem

95 barras/Ferro 4.2/5,50/522,50/Idem

10 k/Arame recozido/6,00/60,00/Idem

1.500 unidades/Tijolos/0,34/510,00/Idem

12 metros/Brita 1/55,00/660,00/Idem

VALOR TOTAL DOS MATERIAIS

R$ 6.297,00 (SEIS MIL E DUZENTOS E NOVENTA E SETE REAIS

A PREFEITURA NÃO ATENDE À TODA COMUNIDADE COM A COLETA DO LIXO (texto e fotos)

Apenas uma parte da comunidade é atendida com a coleta de lixo da prefeitura. Há moradores que são obrigados a conduzirem seus lixos domésticos em carrinhos-de-mão por mais de dois quilômetros, não obstante a Associação dos Moradores já ter feito vários pedidos, à Prefeitura e à ESURB, para que toda a comunidade seja atendida.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O RIO ESPIGÃO (texto com foto)


O córrego do Espigão, ou Rio Espigão, como é chamado, nasce num ponto próximo das margens da BR 135, entre as comunidades de Lagoinha, Planalto Rural e Olhos D’Água. Deságua no Rio do Sítio, abaixo da comunidade de Barrocão, após descer por grandes depressões, entre espigões, por um percurso de 15 a 20 quilômetros. Nesse percurso existem, no seu leito, várias pequenas e médias cachoeiras.

Ele dá nome a duas comunidade situadas às suas margens: Espigão de Baixo, também chamada de Espigão do Barrocão, e Espigão de Cima, também chamada Espigão da Lagoinha. O Rio Espigão já não tem o mesmo vigor de alguns anos atrás – durante o período de seca tem seu curso reduzido e, às vezes, chega a ter seu curso interrompido em alguns pontos.

Acredita-se que o desgaste do rio ocorre em virtude de desmate da mata ciliar e do uso indiscriminado de suas águas para irrigação. Temos a intenção de discutirmos com a população ribeirinha alternativas de uso das águas do rio sem prejuízo para a sua vitalidade e o ambiente no qual está inserido.

CAMPANHA CONTRA A DENGUE NA COMUNIDADE (fotos)


ESPORTES E LAZER (fotos)

MUTIRÃO PARA CONSTRUÇÃO E INSTALAÇÃO DE CAIXAS D'ÁGUA (fotos)

AULA DE INFORMÁTICA (foto)

AULA DE DANÇA DE FORRÓ UNIVERSITÁRIO (fotos)


MUTIRÃO PARA AMPLIAÇÃO DO CEMITÉRIO DO FELIPE (foto)

ATIVIDADES COMUNITÁRIAS (fotos)






MUTIRÃO PARA A CONSTRUÇÃO DA SEDE DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA




AULA DE VIOLÃO






PALESTRA SOBRE GERIATRIA

QUEM SOMOS NÓS (texto)

Somos uma pequena comunidade rural situada ao sul do município de Montes Claros, Região Norte do Estado de Minas Gerais.

Há oito anos éramos parte da comunidade de Lagoinha, situada a cerca de 800 metros. Em 2002 criamos uma Associação Comunitária e demos início à formação de uma comunidade independente.

Estamos a 17 km da sede do município (16 km pela rodovia BR 135, sentido de Montes Claros a Belo Horizonte). Somos uma comunidade de pequenos agricultores, porém, pela proximiddade com a área urbana do município, temos também alguns aposentados de empregos urbanos que decidiram morar na zona rural. Temos cobertura de telefone celular, canais de televisão aberta e internet. A nossa Associação Comunitária dos Pequenos Produtores e Trabalhadores Rurais das Margens do Rio Espigão (ACESP) tem investido na libertação do antigo curral elitoral que a região já em tempos idos e na conscientização dos nossos moradores sobre a necessidade de se exercer plenamente a cidadania.

A VIDA NO MEIO RURAL (texto)

A vida no meio rural no final da década de 2000, não difere muito da vida urbana. Acredita-se que a televisão seja um dos principais instrumentos que dinamizaram o processo de unificação do modus vivendi de moradores das duas partes do município, por difundir informações que outrora só eram acessíveis a moradores urbanos. Essa unificação está se consolidando com a inclusão digital dos moradores da zona rural (muitos moradores atualmente possuem computador e internet em casa).

Todavia, houve um período em que as diferenças entre o habitante da zona rural e o habitante da zona urbana eram visíveis, o que renderam alguns estereótipos que permanecem até hoje retratados nas caricaturas caipiras das fantasias das festas juninas e em filmes com personagens matutos, como os dirigidos e protagonizados por Amâncio Mazzaropi. Alguns depoimentos nos dão uma ideia de como era a vida, em décadas anteriores, no local que viria a ser a comunidade de Espigão.

Antônio Souza Rocha, 78 anos, nascido na comunidade de Barrocão e residente em Espigão há 36 anos, mas, desde criança sempre teve contato com as pessoas que moravam nesta localidade. Ele diz que as primeiras lembranças que tem de onde é hoje a comunidade de Espigão são da época da sua juventude: havia apenas um conjunto de cerca de 13 ou 14 sítios ou fazendinhas. Naquela época, segundo ele, a vida era bem difícil, as pessoas se deslocavam de um lugar a outro, inclusive para a cidade, a cavalo, a pé ou em carro-de-boi com rodas rígidas de madeira pura ou de madeira com armação de metal (as carroças com rodas de pneu começaram a surgir muito depois, na década de 1960, quando a BR 135 foi asfaltada). A iluminação era a querosene ou azeite caseiro de mamona; as pessoas mais pobres vestiam-se de roupas (calças, saias, camisas) confeccionadas com o tecidos obtidos a partir da abertura de sacos de linhagem (fibra de sisal), depois evoluiu para o uso de tecidos de algodão de sacos utilizados para transportar açúcar e cereais; estes últimos também foram muito usados para confeccionar fraldas e cueiros de recém-nascidos. Os calçados para uso no dia-a-dia – quando se usava – eram feitos artesalmente a partir couros sem tratamento de bovinos. Dormia-se em colchões feitos com tecidos de sacos (de linhagem ou algodão) enchidos com palhas de bananeiras ou capim de carrasco, e as camas muitas vezes eram feitas de forquilhas fincadas no chão do quarto com um estrado feito com varas; as camas depois evoluíram para um conjunto de cavaletes com tábuas. Comprava-se basicamente arroz, querosene, sal, calçados e roupas para passeio (as peças dessas roupas e calçados costumavam durar por até 10 anos devido ao pouco uso); o restante era produzido na roça: gordura de porco, rapadura, verduras, temperos, feijão, milho, sabão. Ele lembra que era ainda jovem quando estava numa festa em Água Santa e que ali estiveram em visita rápida “Deba” e “Neco Santa Maria” afirmando que precisavam voltar logo à cidade porque o Presidente da República (Getúlio Vargas) havia morrido. “Deba” e “Neco Santa Maria” eram os políticos que dominavam a região. O entrevistado disse que, por influência desses dois já votou também em Pedro Santos para prefeito e Geraldo Lima para vereador; o principal líder comunitário que trabalhava para esses políticos na região foi Sebastião da Rocha, morador da Fazenda Barrocão, auxiliado por Messias Cachoeira e “Raul de Ambrósio”, na Lagoinha, Ursino Ferreira, no Planalto, e Manoel Nunes em Espigão. Disse que já ouviu comentários de que “Neco Santa Maria” e “Deba” mandavam torturar e até matar desafetos e adversários políticos, mas, que não conhece nenhum fato que os prove; que sabe com certeza apenas que os dois costumavam livrar da cadeia as pessoas ligadas a eles que se envolviam em problemas com a lei.

Antônio Gonçalves Ferreira, 83 anos, nascido na Fazenda Lagoinha e residente na comunidade de Espigão há 52 anos. Disse que na sua juventude era muito comum festas em casas de família – costumavam amanhecer o dia e dificilmente ocorriam brigas. Igrejas só existiam na Água Santa, Gameleira e Riachinho. Afora as festas de famílias e eventos religiosos a diversão era se reunir onde havia campos de futebol ou nos pequenos bares situados às margens da rodovia – os mais próximos eram os de “Miguel Cacetão”, “Miguel Pedra”, “Neco Martins” (depois Dionísio Leal) e “Raul de Ambrósio”. Afirma que nunca votou quando era jovem, uma vez que só tirou seu título de eleitor já com idade avançada, por influência de Ademar Bicalho. Disse que conheceu “Neco Santa Maria” e “Deba”, que eram os políticos que tinham o controle da região na época da sua juventude, e que já ouviu dizer que os dois eram advogados e que costumavam livrar da cadeia os criminosos buscassem a ajuda deles. Disse que durante muitos anos da sua vida só conhecia a iluminação com o candeeiro de azeite de mamona, fabricado com barro argiloso, que só na maturidade veio a conhecer o querosene.

Waldemar Nunes da Silva, 79 anos, nasceu e viveu até os 24 anos de idade na Fazenda Espigão, filho de Manoel Nunes. Disse que no período em que morou na comunidade, apenas Manoel Nunes (seu pai), Ambrósio Dias e “Chico Nunes” possuíam carros-de-boi; alguns dos demais moradores possuíam cavalos e havia aqueles que não dispunham de nenhum meio de transporte. Que era muito comum as pessoas viajarem a pé os cerca de 20 quilômetros até a cidade nos finais de semana. Os cavalos e carros-de-boi eram guardados num curral da prefeitura, localizado na rua Pires e Alburquerque (onde atualmente é sediado o Batalhão do Corpo de Bombeiros de Montes Claros); ali costumava ocorrer freqüentes furtos de arreios, cortes furtivos de crinas e rabos de eqüinos (matéria-prima para a fabricação de rédeas) e até furtos de animais. Ele confirma que politicamente a localidade era dominada por “Neco Santa Maria” e “Deba”, homens poderosos contra os quais circulavam comentários de que mandavam matar seus desafetos e adversários políticos e de que livravam da prisão qualquer criminoso que lhes pedisse ajuda; também eram famosos por conseguir reaver armas que eram apreendidas pela polícia e devolvê-las aos seus donos; disse que não teve uma ligação direta com os dois e nem conhece nenhum caso real sobre os comentários sobre uso de violência que circulavam sobre eles, mas, que seu pai, Manoel Nunes, manteve uma proximidade com os dois durante o tempo em que eles mantinham o controle político da região. Destacou que a água sempre foi o fator principal na constituição da comunidade: antes as casas eram construídas próximas aos rios e a água era buscada em latas “na cabeça” pelos moradores; depois, os que tinham melhor poder aquisitivo passaram a utilizar animais de carga para buscar a água; em seguida, vieram os carneiros (bombas hidráulicas com funcionamento pela pressão da própria água) e, por fim vieram as bombas elétricas seguidas dos poços tubulares. No Rio Espigão chegou a ser instalada uma roda d’água que funcionou algum tempo bombeando água para um morador.

Raul Dias Figueiredo, o “Raul de Ambrósio”, 80 anos, nasceu e viveu a maior parte de sua vida na comunidade. É filho do casal Ambrósio Dias/Gertrudes Figueiredo. Disse que por ocasião da divisão das terras entre os herdeiros de sua mãe, enfrentou dificuldades para selecionar um local que o interessasse, uma vez que ainda não possuía uma posse demarcada; que seus irmãos, especialmente Augusto, insistiram para que ele demarcasse seus direitos em duas partes distintas: uma no alto da chapada, onde não era valorizada porque não havia água, e outra próximo ao rio; disse que como ele era comerciante estabelecido às margens da rodovia, fora do terreno de sua mãe e não tinha atividades rurais, decidiu propor retirar todo o seu direito no alto da chapada. Com o crescimento do povoado de Lagoinha cresceu a procura por chácaras no entorno do povoado e, então, suas terras, que antes não tinham valor, passaram a ser valorizadas por terem características ideais para chácaras: isto, segundo ele, gerou incômodo em outros herdeiros que quando da divisão das terras não tinham interesse na área de chapada. Declarou que conheceu “Deba” e “Neco Santa Maria” e que era amigo dos dois – chegou a atuar como “cabo eleitoral” dos dois em Lagoinha, Espigão e outras comunidades, assim como trabalhou para Pedro Santos e Moacir Lopes. Disse que “Neco Santa Maria” era um homem de poucos estudos, mas, muito astuto na política; que “Deba”, ao contrário, era mais culto; afirmou que já ouviu comentários de que os dois costumavam utilizar de violência contra seus adversários políticos, mas, que pessoalmente não conhece nenhum caso que comprove esses comentários.

José Ribeiro da Silva, 64 anos, nasceu na comunidade de Rio Verde, município de Francisco Sá e vive em Espigão há 62 anos. É filho de Emídio Lopes que veio para Espigão com a família em 1947. Ele destaca que havia uma certa integração dos moradores da parte da Fazenda Espigão que se tornaria a comunidade de Espigão de Cima, em função de serem poucos moradores. Era comum um vizinho agradar ao outro partilhando carne quando abatia um porco por exemplo; havia negociações constantes entre os vizinhos com troca e venda de animais e pertences. Havia solidariedade nos casos de doenças e mortes; havia também a prática da “mãe de leite”, em que a mulher que dava a luz evitava que a criança amamentasse do colostro que, segundo a crença, era o “leite ruim”; o leite era retirado e descartado até que adquirisse a coloração branca; enquanto isto, uma lactante das vizinhanças amamentava a criança durante os 3 ou 4 primeiros dias do parto – essa lactante passava a ser considerada a “mãe de leite”.

Augusto Dias Figueiredo, 66 anos, natural e morador da comunidade de Espigão desde que nasceu. É filho do casal Ambrósio Dias/Gertrudes Figueiredo. Disse que quando criança e adolescente raramente se via um veículo automotor passando pela estrada de rodagem que levava à cidade de Montes Claros – o que mais se via eram pessoas se deslocando a cavalo, às vezes tangendo outros cavalos com cargas do se produzia na roça para vender na cidade. Via-se carros-de-boi, no início eram os “saboeiros”, carros-de-boi fabricados em madeira e com rodas de chapas de madeira sem raios; o deslocamento desses carros produzia um ruído contínuo característico, algo parecido com o canto de uma cigarra, porém, mais grave; havia também as pessoas que se deslocavam a pé até a zona urbana do município. Depois dos “saboeiros” surgiram os “carroções”, carros-de-boi com rodas raiadas e com bordas de ferro, eixo e cantoneiras também de ferro. Por fim, vieram as carroças, puxadas por cavalos e com rodas semelhantes às de “carroções”, isto é, em ferro e madeira, só que mais leves. Disse que foi “guieiro de boi” de seu pai, desde muito cedo – o “guieiro de boi” é a pessoa que segue à frente do “carro-de-boi” para ser acompanhado pelos bois e dar direção ao veículo. Viajava sempre com seu pai para vender os produtos na feira do mercado municipal aos sábados (vendia feijão, milho, rapadura, ovos, queijo, verduras, mamona, etc.). O mercado municipal era situado ao lado da Praça Dr. Carlos, onde hoje funciona o Shoping Popular. Depois de algum tempo seu pai adquiriu uma carroça com rodas semelhantes às de carroção e, além de transportar seus próprios produtos também costumava fazer fretes para outros produtores rurais da região: a viagem com essa carroça até a cidade durava em média uma noite, isto é, saía-se ao pôr-do-sol e viajava toda a noite, com pequenas paradas para descanso, e chegava à área urbana ao amanhecer. A iluminação das casas era feita com lamparinas a querosene e candeeiro de azeite, mas havia um recurso extra quando faltava o querosene e o azeite: colocava-se várias sementes descascadas de mamona enfileiradas num espeto fino de bambu ou madeira e incinerava a semente da ponta do espeto; a semente queimava em chama e iluminava o ambiente doméstico; na medida em uma semente acabava o fogo passava por transmissão para a semente seguinte. Para lubrificação dos carros-de-boi, carroças e engenhos de cana, usava-se graxa caseira, fabricada com sebo bovino e pasta de mamona cozidos. Disse lembrar que o primeiro rádio adquirido na comunidade foi do seu irmão Raul, possivelmente na década de 1950.

NOTAS:
1 Atualmente, com os avanços da medicina, a amplitude dos meios de comunicação de massa e a atuação dos agentes comunitários de saúde, a função do colostro é amplamente conhecida e ele já não mais é descartado, seja por moradores da zona rural ou urbana.


2 As carroças com rodas em pneumáticos só viriam a partir da década de 1960. Na comunidade de Espigão de Cima, os primeiros a adquirirem carroças desses modelos foram Dionísio Leal, filho de Joaquim Leal, e Manoel Nunes.

ANTECEDENTES QUE CULMINARAM COM A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE (texto)

Os primeiros moradores, dos quais que se tem registro, vieram para a localidade, hoje denominada de Espigão de Cima por volta de 1930. Joaquim Nunes Cordeiro, Ambrósio Dias de Morais, Rosalino Avelino, José da Rocha, o “Zé da Rocha”, um senhor conhecido por “Chico Mumbuca”, Marcionílio Pereira, Manoel Pereira, José Teixeira, o “Zé de Rosa”, João Elias, o “João da Lagoa”, em cujo terreno morava “Necão de Rita”, Cesário (não possuía apelido e não foi possível obter o sobrenome), “Zé Vaqueiro” e “Jacinto Catirá”, foram os primeiros a chegar com suas respectivas famílias. Dentre estes, Joaquim Nunes teria sido o primeiro e Ambrósio Dias o segundo a se instalar na localidade. Alguns anos mais tarde, Manoel Nunes Cordeiro e Francisco Nunes Cordeiro, o “Chico Nunes”, filhos de Joaquim Nunes, adquiriram glebas de terras na mesma fazenda. Posteriormente, por volta de 1947, Emídio Lopes da Silva chegaria à comunidade por influência do seu primo Ambrósio Dias. Depois de algum tempo, Joaquim Leal, Jaime Leite, o “Velho de Niquim”, José Dias de Figueiredo, o “Zé de Ambrósio”, filho de Ambrósio Dias, também adquiriram terrenos na localidade. Com exceção de “Velho de Niquim”, que vendeu seu terreno e se mudou, os herdeiros (filhos e netos) desses primeiros moradores dariam origem à comunidade, seja por constituírem famílias na localidade, seja por venderem suas propriedades, no todo ou em parte, possibilitando a vinda de novos moradores. As terras que pertenceram a estes foram sendo divididas entre os herdeiros na medida em que os proprietários iam morrendo. Muitos herdeiros as vendiam no todo ou em parte e, assim, foi-se formando uma área com vários pequenos sítios.

Após a morte da esposa de Joaquim Nunes, no início da década de 60, a família vendeu as terras do casal, o patriarca foi morar com seu filho Manoel Nunes e viria a morrer no início da década seguinte. Antes, porém, com a morte da primeira esposa de Manoel Nunes, filho de Joaquim Nunes, no início da década de 1950, a metade das terras do casal foi dividia entre os 5 filhos. No início da década de 1960 “Zé de Ambrósio”, viúvo da filha mais velha de Manoel Nunes, comprou os direitos de herança dos outros quatro herdeiros. Por essa época Emídio Lopes, que já possuía uma propriedade na mesma fazenda, abaixo das terras que foram de “Chico Mumbuca” e de Cesário, próximo ao limite com a comunidade de Barrocão, adquiriu as terras dos herdeiros de “Chico Nunes” (falecido na década de 1950) que se limitavam com as terras dos herdeiros de Ambrósio Dias (falecido no final da década de 1940). Manoel Nunes se casou pela segunda vez e teve mais 10 filhos: morreu em meados da década de 1970.

As terras de Rosalino Avelino foram adquiridas, por compra, por um senhor conhecido apenas por “Dr. Aurindo” e, depois, por “Velho de Niquim” e um morador conhecido de todos como “Senhor Neném”; as terras de “Chico Mumbuca”, “Jacinto Catirá” e Cesário foram adquiridas por Joaquim Leal. As terras de Joaquim Nunes foram adquiridas por Manoel Pereira Ramos, “Manoel Pão”, morador da Fazenda Pacuí (falecido na década de 1970); as de Manoel Nunes, uma parte foi adquirida por “Zé de Ambrósio”, que se somou a outras glebas que possuía, e a outra parte por pessoa conhecida como “Senhor Liu” e para outros proprietários sucessivos. “Manoel Pão” morava na Fazenda Pacuí, mas, possuía dois genros que moravam na Fazenda Espigão (um filho de Emídio e outro filho de Ambrósio) que, após sua morte, herdaram as terras que foram adquiridas de Joaquim Nunes.

As terras de Ambrósio se mantiveram em uso comum dos seus herdeiros, sob a coordenação da viúva Gertrudes Alves Figueiredo, com exceção de “Zé de Ambrósio” que vendeu seus direitos de herança e mantinha sua propriedade independente. A segunda esposa de “Zé de Ambrósio” morreu no início da década de 1990 e suas terras foram divididas entre ele e 10 herdeiros. No final daquela década, ele, já vivendo o seu terceiro casamento, vendeu duas pequenas glebas do seu terreno e uma dessas glebas foi redividida entre os herdeiros do comprador. “Zé de Ambrósio” morreu no ano de 2002 e suas terras foram divididas entre 11 herdeiros, um filho do primeiro casamento e 10 do segundo. Desses onze herdeiros só três ficaram com suas partes, os demais venderam seus direitos para pessoas fora da família. A terceira esposa (que não era casada civilmente) vendeu a um dos herdeiros do companheiro o direito à casa do casal e a uma faixa de terreno que lhe fora doada pelo companheiro em vida. As terras que antes pertenceram a “Zé de Ambrósio” atualmente (2010) pertencem a 15 famílias.

O ponto culminante da formação da comunidade tal qual se encontra hoje, entretanto, foi a perfuração de dois poços tubulares na localidade e a divisão em chácaras dos terrenos que pertenceram a Emídio Lopes da Silva e a Gertrudes Figueiredo, na primeira metade da década de 2000. O primeiro faleceu no final da década de 1970 e a segunda faleceu no início da década de 1990. Os herdeiros dessas duas famílias dividiram a parte de suas terras que se situava na área de chapada (ponto mais alto dos terrenos) em várias chácaras com dimensões que variam entre 1.000 e 5.000 m². Houve, então, um afluxo de novos moradores bem como de pequenos proprietários que residem na área urbana do município e que se deslocam para suas propriedades nos finais de semana. Para a venda das chácaras o fator decisivo que era o abastecimento de água, e esse abastecimento viria a ser o principal responsável por alguns conflitos surgidos entre os vendedores de chácaras e por toda a configuração social, econômica e cultural que a comunidade adquiriu, como será tratado mais adiante.

DESCRIÇÃO DA LOCALIZAÇÃO DA COMUNIDADE (texto)

A comunidade de Espigão de Cima está situada às margens do Rio Espigão, a cerca de 1.500 metros da sua nascente, e a aproximadamente 800 metros do povoado de Lagoinha, que é cortado pela rodovia BR 135. A comunidade está situada na Fazenda Espigão e passou a ter a denominação de Espigão de Cima para se diferenciar de outra comunidade também chamada Espigão, hoje denominada de “Espigão de Baixo” ou “Espigão do Barrocão”, situada também às margens do Rio Espigão, porém, a jusante e próximo à comunidade de Barrocão.


A denominação da fazenda se deve ao fato desta ser divida ao meio, no sentido longitudinal, pelo Rio Espigão que nasce num ponto próximo às margens da BR 135, entre as comunidades de Lagoinha, Planalto Rural e Olhos D’Àgua, e deságua no Rio do Sítio, abaixo da comunidade de Barrocão, após descer por grandes desfiladeiros, entre espigões, por um percurso de 15 a 20 quilômetros. A Fazenda Espigão constitui-se de uma grande faixa de terreno (cerca de 1.000 alqueires), limitada ao Oeste pela rodovia BR 135, ao Norte pelo córrego São João e ao Sul, Leste e Nordeste pelo Rio do Sítio. O Rio do Sítio nasce próximo à comunidade de Santa Rita (nos limites entre os municípios de Montes Claros e Bocaiúva), corre em direção Leste e depois descreve uma curva acentuada na direção Nordeste para desaguar no Rio Verde Grande, no município de Glaucilândia. Dentro dos limites da Fazenda Espigão estão as comunidades de Espigão de Cima, Barrocão, Espigão de Baixo, Barro Branco, Planalto Rural e parte de Lagoinha (outras duas partes do povoado de Lagoinha estão situadas em fazendas diferentes: uma, ao Norte, na Fazenda São João e outra, ao Oeste, na Fazenda Pradinho). Algumas pessoas confundem, mas, a comunidade de Espigão de Cima não é necessariamente a Fazenda Espigão e sim parte desta.

CONSTRUÇÃO DA IGREJA CATÓLICA (foto)

A igreja católica da comunidade já está com a construção bem avançada, toda através de mutirões e arrecadações em leilões, rifas e eventos festivos.

MUTIRÃO PARA CONSTRUÇÃO DA SEDE DA ASSOCIAÇÃO (fotos)